ATA DA TRIGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 16.11.1995.

 


Aos dezesseis dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e noventa e cinco reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezoito horas e dezessete minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear o "Dia da Consciência Negra", de acordo com o Requerimento nº 001/95 (Processo nº 044/95), de autoria do Vereador Wilton Araújo e aprovado pelo Plenário. Compuseram a Mesa: Vereador Airto Ferronato, Presidente desta Casa, Senhora Sandrali Bueno, Secretária Executiva do Conselho Municipal dos Direitos da Cidadania, Contra as Discriminações e Violência, Senhora Luisa Maria da Silveira, representante da Casa Civil do Estado e Senhora Asta Schneider, representante da Secretaria Estadual do Trabalho, Cidadania e Assistência Social e o Vereador Wilton Araújo. E como extensão da Mesa, o Senhor Presidente registrou as presenças das seguintes pessoas: Senhor Dilmair Santos, Assessor Geral do Negro, do Gabinete do Prefeito, Senhor Alan Silva, representando o Comitê Pró-Marcha à Brasília - 300 Anos de Zumbi, Senhor José Carlos Ferreira dos Reis, Diretor-Geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana, Senhor João Batista de Souza, representando o Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre, Senhora Elza Vieira da Rosa, representando o Fórum de Articulação das Entidades Negras, Angola e Janga, Senhora Eni Veiga Canarim, representando a Associação das Mulheres Negras Gaúchas, Senhor Hermes de Souza, Diretor da Escola de Samba "Bambas da Orgia", Senhor Nelson Santana Vieira, representando o Deputado Estadual Vieira da Cunha, Senhor Adroaldo Corrêa, representando a Secretaria Municipal de Cultura. Após, o Senhor Presidente mencionou texto de Joaquim Nabuco, escrito no Século XIX, que mostrava a essencialidade do negro na História Econômica do Brasil, concedendo, a seguir, a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Wilton Araújo, em nome das Bancadas do PDT, PMDB, PP, PPS e PSDB, discorreu sobre a discriminação, ainda existente, em relação aos negros, dizendo ser este o momento de resgatar a cultura negra. A Vereadora Maria do Rosário, em nome da Bancada do PT, defendeu o enfrentamento do preconceito racial, como parte da luta por transformações sociais, criticando, ainda, a política neoliberal do governo federal. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome das Bancadas do PFL e PPR, fez retrospectiva histórica da presença do negro no território brasileiro, dizendo que a discriminação racial, hoje, se apresenta sob as mais sofisticadas formas. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Júlio César Camisolão, do Movimento Negro Unificado, que relembrou momentos de luta dos negros portalegrenses contra atos de racismo, referindo-se às comemorações dos Trezentos anos de Zumbi e do Quilombo dos Palmares. Às dezenove horas e dezesseis minutos, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, agradecendo a presença de todos e convocando os Senhores Vereadores para a Sessão de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Airto Ferronato e secretariados pelo Vereador Wilton Araújo, 3º Secretário. Do que eu, Wilton Araújo, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


(Obs.: A Ata digitada nos Anais é cópia fiel do documento original.)

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a homenagear o Dia da Consciência Negra.

Convidamos para compor a Mesa: a Sra. Sandrali Bueno, Secretária Executiva do Conselho Municipal dos Direitos da Cidadania contra as Discriminações e Violência; a Sra. Luisa Maria da Silveira, representante da Casa Civil do Estado do Rio Grande do Sul; a Sra. Asta Schneider, representante da Secretaria Estadual do Trabalho, Cidadania e Assistência Social; e o Ver. Wilton Araújo, Secretário desta Câmara Municipal e proponente desta Sessão Solene.

Esta Sessão Solene é de autoria do Ver. Wilton Araújo, de acordo com o Requerimento nº 001/95, primeiro Requerimento encaminhado à Câmara neste ano e aprovado pela unanimidade dos Vereadores.

Gostaria de dizer da grata satisfação por estarmos aqui, neste ato, com os senhores. Nesta oportunidade, gostaria de mencionar o texto de Joaquim Nabuco, escrito no século XIX.

(Lê.)

"Há trezentos anos que o africano tem sido o principal instrumento de ocupação e de manutenção do nosso território pelo europeu e que seus descendentes se misturam com o nosso povo. Onde ele não chegou ainda, o país apresenta o aspecto com que surpreendeu aos seus primeiros descobridores. Tudo o que significa a luta do homem com a natureza - a conquista do solo para habitação e cultura, estradas e edifícios, canaviais e cafezais, a casa do senhor e a senzala dos escravos, igrejas e escolas, alfândegas e correios, telégrafos e caminhos de ferro, academias e hospitais -, tudo, absolutamente tudo que existe no País como resultado do trabalho manual, como emprego de capital, como acumulação de riquezas, não passa de uma doação gratuita da raça que trabalha à que faz trabalhar."

Com esse texto de extrema lucidez, Joaquim Nabuco percebeu o que a historiografia oficial sempre procurou esconder: o negro fora do instrumento essencial em toda a história econômica do Brasil.

Também é preciso assinalar nessa ocasião a importância das revoltas escravas brasileiras, sobretudo a de Palmares, liderada por Zumbi, hoje herói da liberdade. Quilombo que chegou a abrigar vinte mil habitantes nas regiões serranas do norte de Alagoas e sul de Pernambuco, no século XVII, deu lugar à formação de um estado negro que resistiu por quase um século às tentativas de destruição empreendidas pelos colonizadores holandês e português. Ali foi formada uma nova sociedade, que criou uma economia, uma língua, uma religião e uma família inteiramente originais.

Com esse Dia da Consciência Negra, temos a intenção de resgatar aqueles valores libertários evocados por Zumbi e chamar a sociedade à reflexão sobre o papel fundamental que o negro exerceu na nossa história e cultura. Daí a nossa satisfação de, nesta tarde, estarmos realizando este ato.

Queremos registrar a presença do Ver. Clóvis Ilgenfritz e do nosso sempre Ver. Adroaldo Corrêa.

O Ver. Wilton Araújo está com a palavra e falará em nome da sua Bancada, o PDT, e pelas Bancadas do PMDB, PP, PPS e PSDB.

 

O SR. WILTON ARAÚJO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Senhores e Senhoras convidados desta Casa que, mais uma vez, vêm a uma Sessão que é intitulada solene. Na verdade, não é a solenidade que nos faz reunir todos os anos na Câmara Municipal, mas a necessidade de abrir um espaço para os representantes legítimos do Movimento Negro.

O que nos traz aqui, desde o ano de 1984, quando foi aprovada nesta Casa a Semana do Negro, é exatamente a consciência de que somos ainda discriminados, a consciência de que, se não houver a discussão, se não houver a luta para enfrentar todo esse modelo discriminador implantado no País desde os primórdios, nós não conseguiremos sobreviver como cidadãos de um país que tem nada menos do que 80%, ou mais, de cidadãos negros ou deles descendentes. Ou seja: é para resgatar, anualmente, a parte cultural ou a cultura que vem da África através de nossos escravos, a importância da construção do País por essa mão-de-obra escrava e a influência da cultura negra no nosso meio.

Sem dúvida nenhuma, o ano em que vivemos, 1995, é um ano que, por suas características e pela ampliação do Movimento Negro em nível nacional, deixa-nos muito felizes porque é o primeiro ano que podemos participar, em nível nacional, de movimentos articulados que demonstram a força e a pujança da nossa cultura. Aí está a marcha a Brasília, aí estão os congressos que se realizarão em São Paulo para discussão.

Estão ocorrendo em Porto Alegre vários eventos na Semana da Consciência Negra e contra o Racismo, vários seminários, onde a sociedade, pelo menos nesta semana, voltará os olhos para os reais problemas da comunidade negra no País. Nesse sentido, insere-se esta Sessão como reflexão, como consciência, como brado contra a discriminação que campeia solta no nosso País. Dizia, com satisfação, este ano, porque acompanhamos o Movimento através de suas várias manifestações e vimos, pela primeira vez também, a grande imprensa em nível nacional dar e abrir espaço para essa discussão.

No último domingo, tivemos a oportunidade de ler reportagem da "Folha de São Paulo" onde resgata, historicamente, toda a importância do Quilombo dos Palmares e do herói Zumbi. É bem verdade que também assinala a pouca, ainda incipiente, pesquisa que se terá que fazer e aprofundar, inclusive arqueológica, no Quilombo dos Palmares. Mas resgata e traz a história do Rei Ganga Zumba e do nosso herói Zumbi.

É nesse sentido que nós, em comum acordo com os diversos movimentos negros, neste ano modificamos o projeto original, que denominava Semana do Negro, tornando-se a Semana da Consciência Negra e contra o Racismo. Incluímos também a Câmara Municipal nesse contexto, fazendo com que, a partir de agora, todos os anos a Câmara, além da já tradicional Sessão Solene, promova também eventos possibilitados por essa resolução apresentada e aprovada em Plenário, destinando, inclusive, dotação orçamentária - pouca, é claro, dentro dos limites e das restrições de um parlamento do porte do de Porto Alegre - que vai propiciar que, a partir do ano que vem, se possa fazer mais e com mais intensidade, incluindo a Câmara Municipal nesse movimento.

É nesse sentido, também, que apresentamos projeto nesta Casa, já articulado com o Sr. Prefeito Municipal - meu querido amigo Adroaldo, sempre Vereador, como diz o Ver. Ferronato -, articulado, para que se permita que o Executivo ponha em local predeterminado um memorial, um busto, algo que possa lembrar Zumbi e os trezentos anos de sua morte. Tal proposta foi apresentada a mim - que fui só um intermediário - pela Associação das Mulheres Negras, que tem aqui a Eni, hoje, e que muito nos honra com sua presença.

É neste aspecto, então, que vemos Porto Alegre integrando-se e fazendo o movimento negro, fazendo sentir a sua presença de forma decisiva e determinada. É chegado o momento de resgatarmos a nossa cultura. Cito um assunto que pode não ter unanimidade, mas tenho certeza de que, se a pista de eventos tivesse como fundo qualquer outro tipo de cultura vinda de qualquer outro lugar que não o da cultura negra, certamente ela já estaria naquele lugar. É contra isso que me insurjo. Representantes legítimos, porque eleitos, de certa forma bloquearam a realização da pista de eventos populares, porque o lugar é inadequado, porque não era o momento, etc. As justificativas foram muitas e as maiores, mas o fato é que, se fosse de outra cultura, se estaria erigindo a pista de eventos populares, mas, como é para a raiz negra da nossa população, a mais carente, não pode ser colocada aqui; deve ser colocada mais longe, mais para fora da Cidade, se assim deixarmos acontecer. Infelizmente, essa é a nossa realidade ainda hoje e aqui dentro do Município de Porto Alegre. Digo infelizmente, porque teve a participação majoritária desta Câmara para, de certa forma, não deixar acontecer.

O dia de hoje não só nos faz refletir sobre essa realidade, sobre essa dificuldade, sobre a política em nível nacional que tem trazido tanto desemprego, como também refletir que 90% dos desempregados são negros. Essa é a realidade, onde a marginalização vem chegando aos nossos lares de forma crescente, ascendente e muito rápida. É nessa realidade que o povo brasileiro, de maioria negra, se situa hoje, e é por isso que são tão importantes todas as manifestações, os congressos, as marchas, enfim, tudo aquilo que a comunidade negra tenta fazer e consegue agora finalmente ser, pelo menos, notícia nacional. É nesse sentido que eu faço empenho para que o auxílio desta Casa, mesmo que seja, neste ano, simbólico, aconteça para que essas manifestações tenham curso, para que fique marcada aqui a presença de cidadãos negros de Porto Alegre. A nossa ajuda sei que não é tão grande quanto a necessidade, mas quem sabe podemos ajudar para que esses eventos tenham o brilhantismo e o reconhecimento nacional e internacional que merece.

É nesse contexto que eu me despeço dos senhores dizendo que muito já foi conquistado desde 1984, quando iniciamos a Semana do Negro. Dizia-se, naquela época: "Mas para que a Semana do Negro? É mais uma discriminação. Por que a Semana do Negro?" Mas é a Semana do Negro porque é a semana do discriminado. Sem essa semana ele não teria a tribuna para falar aqui. Já conseguimos muita coisa, mas muito, muito há, ainda, a percorrer; muitas vezes de forma radical, exaustiva, forte, mais exigida do que o simples pedir.

Acho que estamos cumprindo com o nosso papel abrindo espaço, tendo a consciência e bradando bem forte: "Não à discriminação!" (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos as presenças: do Sr. Dilmair Santos, Assessor Geral do Negro, do Gabinete do Prefeito; Sr. Alan Silva, representando o Comitê Pró-Marcha a Brasília, 300 Anos de Zumbi; Sr. José Carlos Ferreira dos Reis, Diretor Geral do DMLU; Sr. João Batista de Souza, representando o Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre; Sra. Elza Vieira da Rosa, representando o Fórum de Articulação das Entidades Negras, Angola e Janga; a Sra. Eni Veiga Canarim, representando a Associação das Mulheres Negras Gaúchas; o Sr. Hermes de Souza, Diretor dos "Bambas da Orgia"; o Sr. Nelson Santana Vieira, representando o Dep. Vieira da Cunha; o Sr. Adroaldo Corrêa, nosso sempre Vereador, representando a Secretaria Municipal de Cultura. Citamos a presença no Plenário do Ver. João Motta.

Com a palavra, a Vera. Maria do Rosário, que fala em nome da Bancada do PT.

 

A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os demais os componentes da Mesa.) É, sem dúvida, um momento de desafio falar em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores em um momento como este, onde lembramos o Dia da Consciência Negra e os trezentos anos da imortalidade de Zumbi, especialmente porque esta tarefa diz respeito ao povo trabalhador deste País, aos excluídos, aos setores explorados, o que é um grande desafio para todos nós, especialmente com a presença de Vereadores como Adroaldo Corrêa, João Motta, Clóvis Ilgenfritz e toda a nossa bancada nesta Casa. Para estar à altura desta tarefa, eu produzi alguma coisa organizada para dizer sobre a imortalidade de Zumbi.

(Lê.)

"Lembramos em 1995 os trezentos anos da imortalidade de Zumbi. Zumbi tornou-se imortal porque os ideais da luta que ele travou são imortais. Juntamente com milhares de outros brasileiros, escravos, pobres, marginalizados, negros ou não, Zumbi construiu um Estado multirracial em meio a uma sociedade escravocrata e excludente. Essa utopia concreta balançou a estrutura da sociedade colonial, desencadeou expedições militares para destruir o espírito libertário e irredento de Palmares. Em 1695 efetivou-se o genocídio dos palmarianos e o assassinato de Zumbi. Nesse episódio, o Estado mostrou quanto pode ser violento e cruel no trato das contestações práticas à sua estrutura. Zumbi ousou ir além do discurso, e contra ele os poderosos não acharam suficiente a morte física. Durante séculos Zumbi foi condenado à morte na memória do povo brasileiro, do qual é uma autêntica expressão. Porém, o silêncio oficial não foi capaz de calar o espírito libertário de Zumbi, vivo em cada lutar de nosso povo. Pesquisadores de movimento negro desenvolveram um trabalho intenso para trazer a história de Zumbi e de Palmares à luz da memória dos brasileiros. O primeiro e talvez o maior herói da história brasileira é um negro, e esse fato precisa ser resgatado. Nossa história está cheia de falsos heróis brancos, aristocratas, bem comportados homens a serviço do Estado, talhados pela historiografia oficial para incutirem o respeito ao poder estabelecido e glorificação dos grandes homens. Zumbi, porém, continua subversivo. Contraria os mitos da elite branca e a idéia dos heróis acima do povo. A dimensão do heroísmo de Zumbi reside na sua integração com o povo que liderava e na sua coragem de desafiar o 'status quo' do Brasil colonial.

Ao lembrarmos os trezentos anos da imortalidade de Zumbi devemos trazer para os dias de hoje o significado de seu combate, apontando para um outro tipo de relações interétnicas e sociais para o Brasil.

No Brasil de hoje não vivemos mais relações escravistas institucionalizadas, porém nos deparamos com o escravismo capitalista com condições subumanas de trabalho e o emprego de mão-de-obra infantil e adulta em condições que pouco ou nada diferem da escravidão institucional. Nosso País possui a maior concentração de população negra fora da África e é também o País em que os negros ocupam os lugares mais baixos na pirâmide social. Segundo o IBGE, apenas 7% dos trabalhadores com carteira assinada eram negros. As mulheres negras recebem ainda menos que as mulheres brancas, igualmente vítimas de discriminação. Juntemos a isso o branqueamento artificial da população promovido pelos censos e a própria introjeção de valores discriminatórios e veremos que o racismo é uma realidade bem presente na vida de milhões de brasileiros e que a pobreza tem cor (é negra) e sexo (feminino). A política neoliberal do Governo Federal agrava as condições de vida do povo. A primazia do Orçamento da União é a rolagem das dívidas, dívidas que crescem com a política de juros altos. Para os programas sociais, no entanto, faltam verbas. Não é hipocrisia se falar em combate à exclusão social e fim das discriminações quando faltam instrumentos de promoção social da massa de excluídos e a política recessiva e uma falsa modernização jogam no desemprego milhões de trabalhadores?

O enfrentamento do preconceito racial faz parte de nossa luta por transformações sociais, pois o impulso dado por essas transformações permite a contestação de uma série de preconceitos e valores não humanistas e de dominação introjetados em nossa cultura e nas relações sócio-econômicas.

Zumbi, líder negro, líder da humanidade, ganhou a imortalidade. Também o movimento que ele liderou permanece vivo na luta dos sem-terra, dos meninos e meninas de rua, das mulheres e dos trabalhadores que lutam contra a exclusão e a escravidão de uma vida miserável e alienada. O genocídio contra Palmares pode ser vislumbrado nos massacres de Corumbiara, da Candelária, do Carandiru e no massacre cotidiano da fome.

Por tudo isso, a lembrança de Zumbi é necessária, não a do Zumbi morto, mas a do guerreiro imortal. Não cantemos o canto fúnebre, mas o canto alegre daquele que venceu a morte e nos trouxe até aqui. Axé, Zumbi!"

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra e fala pela sua Bancada, o PFL, e pela Bancada do PTB.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Evidente que a iniciativa do Ver. Wilton Araújo, proponente desta Sessão, alcança os seus objetivos, alcança ressonância que, ainda que aparentemente pequena, tem, como bem acentuou em seu pronunciamento, o condão de deflagrar o registro histórico e, sobretudo, a efetiva participação da Casa do Povo de Porto Alegre, da Câmara de Vereadores, nestes atos públicos que se realizam no sentido de não só acentuar a consciência negra neste País, mas, sobretudo, neste ano em que a comunidade enfatiza, visa e personaliza a figura do excluído histórico, herói negro Zumbi, o Zumbi de Palmares, exatamente no seu tricentenário. A iniciativa do Ver. Wilton Araújo atinge os seus objetivos especialmente se levarmos em conta que é tradicional neste País, e muito especialmente no multirracial Estado do Rio Grande do Sul, haver solenidades em que a representação popular enfatiza a importância da comunidade germânica, da comunidade italiana, da comunidade japonesa, da comunidade polonesa, da comunidade húngara, enfim, deste cadinho cultural que representa a formação étnica do povo rio-grandense. Seria uma desfaçatez e, sobretudo, uma omissão imperdoável se a Câmara Municipal de Porto Alegre, desta Capital do Rio Grande do Sul, não se dedicasse, num dia como hoje, a acentuar também o Dia Nacional da Consciência Negra, dentro da sua proposta de ser o ressoar e o ressonar de todas as manifestações políticas, sociais e culturais desta Cidade.

Pessoalmente, integrando uma bancada que tem um único representante - a Bancada do Partido da Frente Liberal -, tenho pautado a minha atuação nesta Casa por não deixar que a nossa voz não se faça ouvir nestes momentos.

Quando se fala em consciência negra no povo brasileiro, naturalmente tem que ser feita uma retrospectiva histórica que nos leve ao início da presença do negro no território brasileiro. Não se deve esquecer que ela nasceu, que ela se acentuou, se marcou através do tráfico escravo, que foi o modo pelo qual o colono branco, o europeu introduziu na sociedade brasileira a figura do negro. Nunca é bom, nunca é mau, mas sobretudo é importante que não nos esqueçamos que essa luta, que teve no Império o seu apogeu, na abolição da escravatura, e que teve nos liberais da época o discurso mais inflamado e o compromisso mais forte, a cada ano, decênio e a cada século, muda de configuração. Hoje, inclusive, a figura da discriminação racial se apresenta sob as mais sofisticadas formas, que, mesmo sendo sofisticadas, não deixam de ser odiosas. Neste País, por exemplo, se identifica, especialmente no nordestino, no baiano mais fortemente, pela expressiva presença do negro na cultura baiana, a mais nacional das culturas. Se ridiculariza, no Centro-Sul deste País, a figura do baiano, procurando-se identificar, em determinadas atitudes, de forma pejorativa, a afirmação "baianada". Essa é uma forma sofisticada, nova, recente, pela qual a discriminação se realiza.

Aqui, no Rio Grande, onde com tanta ênfase falamos ser um Estado multirracial, ainda há alguns passos muito fortes a serem dados. Por isso, Ver. Wilton Araújo, eu não quis me omitir neste ato que V. Exa. teve a sensibilidade de requerer e a Casa, por unanimidade, consagrou. Acho que hoje temos, aqui, uma reunião não tão ampla como se poderia desejar, pois esta Casa já teve um público muito forte para alguns atos do que hoje temos aqui consagrado. Mas tenho a absoluta consciência de que o continuar dessas manifestações, a abertura de novas tribunas e a realização de novos atos haverão de, progressivamente, dar a esse tipo de encontro aquela ressonância, aquela relevância e a importância que naturalmente ele irá atingir na medida em que ele seja renovado, reafirmado, continuado e ratificado.

Nessas ocasiões, eu quero estar aqui renovando o meu pronunciamento na convicção de que no testemunho da presença e na confirmação da palavra é que nós haveremos de encontrar o compromisso adequado para a construção dessa sociedade livre, que é o sonho da raça negra, em especial, e de todos aqueles que querem um País socialmente justo, culturalmente desenvolvido, economicamente livre e politicamente soberano. Quem pretende levar adiante esses propósitos desconhecendo a importância da raça negra no contexto da nacionalidade não está preparando para levar adiante esse projeto. É certo que nem todos os caminhos são para todos os caminhantes e que, muitas vezes, podemos discordar da forma de se conseguir um objetivo, mas nem isso será forte suficientemente para esvaziar o processo. Pelo contrário, na multiplicidade de opiniões, de caminhos, haverá de se ter a certeza mais ampla de que se chegará ao fim, ainda que trilhando vários caminhos. Pessoalmente, haverei de estar trilhando uma dessas estradas. Não me sinto bem na discriminação.

Para aliar o meu discurso à prática e para não ser um liberal só de fachada, tenho que reafirmar que só acredito numa verdadeira sociedade na qual a liberdade racial esteja ao lado da liberdade política, econômica e religiosa, até para que se desfaçam algumas suspeitas, muitas vezes animadas por coincidências preocupantes. O próprio Ver. Wilton, por exemplo, relembrou a dúvida de que essa prolongada discussão em torno da construção da pista de eventos tenha, no seu fundo, alguma preocupação de se atender uma reivindicação que é da cultura popular, que tem no carnaval uma de suas expressões mais fortes, tendo a presença majoritária da raça negra. Esses temores, essas dúvidas, essas indagações se justificam por uma série de coincidências. Até mesmo nesse tema eu lembro de ter ouvido falar desde um edital publicado pelo ex-Prefeito desta Cidade, Dr. Alceu de Deus Collares, um homem que se orgulha da sua condição de negro e que, em 1988, colocava na imprensa de Porto Alegre um edital pelo qual pretendia que na Av. Augusto de Carvalho se edificasse uma pista de eventos acoplada com um CIEP especial para ser, evidentemente, otimizada em toda a sua potencialidade. Hoje, quase em 1996, ainda se discute a localização.

Então, ainda que eu não seja de "ver fantasmas ao meio-dia", entendo que as suspeitas que levanta o Ver. Wilton Araújo têm as suas razões de ser. Há muitas coincidências que ocorrem nesse processo. Eu, pessoalmente, que não procuro fazer deste assunto nenhuma temática da minha atuação política, mas que não me esquivo de sobre ele me debruçar de frente, como me debruço sobre todos os assuntos que nesta Casa conheço, quero, nesta tarde/noite, aqui, no Plenário da Câmara Municipal, Sant’Ana, lembrar aquilo que nós conversávamos, há algum tempo atrás, na Sala Glênio Peres, quando, em pronunciamento público, eu advertia aos companheiros, àqueles companheiros que estavam ali para pugnar pela construção do sambódromo, advertia-os pelas negaças que nesses assuntos, com alguma freqüência, ocorrem.

Mas fujo do tema principal da nossa reunião de hoje, que é a exaltação da consciência negra e é, sobretudo, o terceiro centenário de Zumbi.

Quero aos ilustres visitantes convidados, representados ou representáveis, dizer a todos que, pessoalmente, me senti muito gratificado em compartilhar com os senhores e com as senhoras esta tarde. Quero que, num ano vindouro, quando certamente por iniciativa - penso que já consagrada - do Ver. Wilton Araújo, nós voltemos a nos reunir aqui, nós tenhamos mais público, mais gente e, sobretudo, mais força das nossas idéias, pois, como eu já disse antes, poderão ser alcançadas por vários caminhos, mas terão que ser alcançadas com tenacidade, com disposição de luta. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Sr. Júlio César Camisolão, do Movimento Negro Unificado, está com a palavra.

 

O SR. JÚLIO CÉSAR CAMISOLÃO: Sr. Presidente da Câmara de Vereadores, Ver. Airto Ferronato, Senhoras e Senhores da Mesa e demais pessoas presentes no Plenário. Estava pensando e cochichando com o pessoal sobre o dia 20 e o caráter da homenagem que está sendo destinada à comunidade negra, em especial ao Dia Nacional da Consciência Negra. Restou uma dúvida sobre o caráter da homenagem, inclusive do poder da representação de fala.

Sou dirigente do Movimento Negro Unificado, coordeno o Coletivo Anti-Racismo da CUT e venho falar em nome do Comitê da Marcha a Brasília contra o Racismo, pela Igualdade e pela Vida. Estes são alguns dos elementos. Pensava assim: vamos homenagear a comunidade negra e vamos começar a falar, tranqüilamente, dos gestores, e até do 20 de novembro, propriamente o dia de hoje. Teríamos que atribuir uma importância a certas coisas. Por exemplo, a algumas sociedades, entre elas a que faço parte: a Sociedade Floresta Aurora, um clube centenário, 123 anos de idade, que aniversaria dia 31 de dezembro deste ano. Foi um embrião. É um movimento social de uma época que chega a este momento como um elo entre o passado e o presente, que faz com que a gente diga: haveria 20 de novembro se a gente não reconhecesse essa variedade de clubes, que é uma característica do Estado do Rio Grande do Sul? Não poderíamos render uma homenagem, ignorando um episódio como esse: Clube Marcílio Dias, que foi onde ocorreu o primeiro ato do 20 de novembro de 1971, na Cidade de Porto Alegre. Mais do que o primeiro ato do 20, quem eram aqueles militantes que vivenciaram essa época, até 1978, quando o MNU - Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial fez do 20 de novembro uma bandeira nacional?

Entre esses militantes de grupos do Movimento Negro há algumas pessoas que não poderíamos ignorar - aliás, como ele mesmo se define: um rato de biblioteca. A pesquisa sobre a definição da data e a homenagem à coletividade e à comunidade palmarina não teria ouvinte não fosse uma delegação militante do Grupo Palmares Isaum, dos seus fundadores, na figura do Prof. Oliveira Silveira, fazer essa pesquisa em alguns materiais, inclusive em obras que podemos citar - por exemplo, um caderno da Editora Abril do final da década de 60, onde falava sobre a figura de Zumbi, uma obra de Édson Carneiro, que falava de Palmares; foram alguns volumes. Nesse primeiro ato de 20 de novembro de 1971, há um dado importante: que nele já se faziam presentes algumas pessoas importantes, como o historiador Décio Freitas, a figura do radialista e advogado Antônio Carlos Kurtz, entre outros. Algumas pessoas engajaram-se, e falávamos sobre o primeiro cartaz, a primeira colagem do 20 na Cidade de Porto Alegre, em 1973. Entre essas pessoas que participaram dessa atividade de militante de rua, em plena ditadura, citamos, por exemplo, as figuras de pessoas militantes do Grupo Palmares: Mariza Souza e Helena Machado, que hoje não pode estar aqui por motivo de saúde. Não podemos ignorar que o movimento começa por nós.

Essa homenagem também começa com um reconhecimento ao militante, que é quem fez esta história. Qual o significado e teor político dessa história? O Movimento Negro é do Rio Grande do Sul. Fomos, de fato, ponta de lança; fomos vanguarda com a proposição da data. Agora, fomos o único movimento social no País que firmou uma data popular, não que reforce o caráter do mito, mas trabalhe na figura do mito no sentido de comunidade, de coletividade, ou seja, a homenagem não é a Zumbi, mas à comunidade palmarina e traduz, em essência, como os Clubes Floresta, no Rio Grande do Sul, o Rui Barbosa, em Canoas, que traduzem, na sua essência, o espírito coletivo.

Essa é a homenagem que queremos fazer e acreditamos que a Câmara de Vereadores é solidária nesse processo. A homenagem e o reconhecimento vão além de algumas iniciativas que, com certeza, através do Legislativo e Executivo, a comunidade negra porto-alegrense quer, de fato, assentar, esse caráter de comunidade agregada com perfil e com identidade própria, com traço cultural, onde a afirmação da diferença não seja resultante de uma divisão, mas da construção da unidade. O princípio democrático de fato tem esse caráter, ou seja, a democracia se faz com a diferença, inclusive do ponto de vista étnico e racial. O papel do Legislativo Municipal avança significativamente na construção da Cidade, na afirmação da sua forma, da sua arquitetura, da forma de como a gente se relaciona.

Eu diria que hoje a discussão do Plano Diretor interessa à comunidade negra e requer a solidariedade radical desses parlamentares. É dessa forma de ver a Cidade que se vê também e se deseja a afirmação da nossa identidade cultural, no formato da rua, se ela vai ser no sentido cruzado, se ela vai ter o seu formato em "x" , se ela vai ser de cruzeiro aberto. Assim a gente garante a sobrevivência da religiosidade negra, afro-gaúcha, porque ela se consolida e se afirma no terreiro. Não é só com o asfalto propriamente dito, como uma cidade formada em quadrados, mas está na garantia e na disputa não do espaço em si, mas da geografia dela.

Foi levantada aqui a questão do sambódromo, que reconhecemos como importante, e de fato fizemos a avaliação de que, se o norte étnico e cultural e o propositor da pista de eventos fosse outro, com certeza ela já estaria aprovada e já estaria sendo encaminhada. Mas é na discussão, quem sabe como no Fundo Municipal da Cultura, que a gente também vê ali uma alternativa de afirmação da identidade étnica, inclusive da sobrevivência de clubes, como o Floresta Aurora, que vive a sua crise, e como outros clubes na região de Porto Alegre e em outras regiões do Estado que também vivem a sua crise de identidade, mas fundamentalmente financeira.

É num sem-número de coisas que o Movimento Negro tenta afirmar as suas bases. Na Câmara, vemos a possibilidade de firmar as bases onde garantam a discussão de alguns elementos. Se afirmamos que a desigualdade se dá no mercado de trabalho, se vê nele não mais a formação de um exército de reserva desse mercado, mas de uma população que está sendo excluída e, quem sabe, vítima de grupos de extermínio, de agentes de toda ordem, e é nesta perspectiva que a gente quer uma modificação. Então, aplica não em geração de renda, mas em geração de mão-de-obra, em geração de emprego, que também se dá na discussão do Município de Porto Alegre, e a gente vê a solidariedade, a gente busca isso e acreditamos que isso possa ser construído.

Para encerrar, há alguns elementos dos quais falamos, como os números da violência, das desigualdades, que batem, eu diria, com o grande mérito do 20 de novembro. Firmamos uma data. Temos um herói nacional que representa uma coletividade neste País, e a gente também conseguiu avanços políticos que, se não fossem eles, esta Sessão não estaria ocorrendo. Um dos avanços que se fala e se garante é que a Constituição deste País reconhece a existência do racismo porque o criminaliza; a gente vê ali a luta política do Movimento Negro. Ali não está o reconhecimento, em essência, da figura do ser negro, mas a discriminação é um fato, aquele inimigo com quem a gente lutava e que parecia invisível, e, na perspectiva de reagir a ele, reagir à violência racial, a gente vê a caracterização do racismo na lei, e levamos alguns anos para que isso acontecesse. Foi em 5 de outubro de 1988, quando se promulgou a Constituição, que a gente viu o reconhecimento da nossa luta, junto com o 20 de novembro e com a luta de todos esses heróis.

Eu esqueci de fazer uma referência a um militante negro. Eu diria que a gente tem militância que, se comparada com a história de alguns, ela anda de fralda; agora, com outros já saíram da calça curta, andam de calça comprida e reconhecem que a gente faça essa referência a essa história militante. Está aqui no Plenário o militante José Alves de Bitencurt, o negro Lua. O Lua não é um militante do Movimento Negro por acaso. De fato ele sintetiza essa coisa de que a luta negra tem um caráter estratégico se a gente ver a luta negra contra o racismo não como algo estratégico, mas a afirmação da comunidade negra como alguém que quer cidadania, direito à vida e reconhecimento à nossa condição de humanidade.

A homenagem vem não como um momento de celebração, mas de reflexão, de reconhecimento e de que o empenho maior de promoção de políticas públicas, de solidariedade do Legislativo se torna imperiosa para nós.

Vai aqui a palavra tímida e acanhada desta militância do Movimento Negro. Eu diria que somos poucos, mas não somos loucos. A prova de que não vivemos uma loucura é a realização do ato em si. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Agradecemos as presenças de todos. Para completarmos esta Sessão, eu gostaria de dizer que cada Vereador, a partir de normas internas aprovadas previamente, tem a disponibilidade de apresentar uma Sessão Especial por ano. Isso tem trazido para a Câmara a demonstração da importância desses eventos para nós, Vereadores, e para toda a Cidade de Porto Alegre, já que ela possui a representação popular nas pessoas dos Vereadores. Esse foi o Requerimento nº 1 da Câmara, apresentado no dia 4 de janeiro de 95. Ora, se esse Requerimento foi apresentado em primeiro lugar, é exatamente o reflexo da importância que o Ver. Wilton Araújo dá a esta data.

Nós, como Presidente da Câmara, temos a satisfação de ter o Ver. Wilton com nosso Secretário - e ex-Presidente da Câmara - e de registrar as presenças da Vera. Maria do Rosário e do Ver. Reginaldo Pujol. Vivemos momentos importantes, e a data comemorativa aos trezentos anos de Zumbi é um ponto de referência histórica para nós.

Registramos com satisfação a presença de todos e declaramos encerrada esta Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 19h16min.)

 

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